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quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Travessia oceanica - pelas 'Alteraçoes Climaticas'

Sponsors precisam-se ! 07.12.07

Durante o mês de Novembro contactei algumas empresas, potenciais sponsors, que, alem de oferecerem produtos/serviços que se relacionam directamente com o tema ‘Alterações Climáticas’ (zero emissões, energias alternativas, reciclagem, etc) e de poderem contribuir para suprir a logistica deste projecto (produtos alimentares, equipamentos desportivos e de comunicações, atracagem do barco, etc), são as que podem ter mais interesse em revelar ao publico o seu lado ‘amigo do ambiente’ e a sua contribuição para um ‘Desenvolvimento Sustentável’. Esta contribuição pode ser feita através de medidas directas de melhoria de eficiência (e redução) no consumo e exploração de recursos, tendentes a minimizar os impactos na natureza (eco-eficiência), ou de medidas que contribuam para a adequação de atitudes e comportamentos, como o apoio a projectos que contenham uma forte mensagem de alerta e sensibilização para o tema ‘alterações climáticas’, com um grande potencial de mediatização, como é o caso do presente. As referidas empresas são:

- Refer: porque oferece um serviço de transporte alternativo e pouco poluente
- EDP Energia: porque está a investir em energias alternativas
- Eco Pilhas: porque se dedica a reciclagem
- Nestlé: porque oferece produtos alimentares energéticos
- Salvador Caetano/Toyota: porque a marca definiu como objectivo “0 emissões”
- Delta Cafés: porque tem apoiado eventos desportivos
- Optimus: porque oferece serviços de comunicações, essenciais para equipar o barco
- Sportzone: porque comercializa artigos desportivos e apoia o desporto-aventura
- BPI: porque apoia o desporto náutico
- Red Bull: porque apoia organizações de desporto extremo
- Samsung: porque comercializa produtos audio-visuais
- Nokia: porque se dedica às tecnologias de comunicações
- Marina de Oeiras: porque pode apoiar com a atracagem e acessibilidade ao barco durante a fase de treinos
- CMOeiras-Deporto: porque é o município da minha residência e pode apoiar na parte logistica do projecto
- BCSD Portugal: porque se dedica ao apoio e criação de programas de ‘Desenvolvimento Sustentável’.

Vou esperar que alguma destas empresas alinhe no projecto. Entretanto prepararei novos contactos com outras. Contactei tambem algumas empresas de comunicação e eventos para agenciamento dos contactos com patrocinadores e imprensa (Eventis e Promóbidos). Entretanto, o meu amigo Rodrigo X. realizou o contacto com uma empresa interessada em instalar o sistema GPS, que permite identificar a localização do barco a cada momento.



Como tudo começou ?! 06.12.07

Recordo como, já desde 1995, pelos menos, se tinham instalado no meu cérebro algumas ideias ‘megalómanas’ de grandes travessias. Nesse ano tinha feito uma temporada em cheio de canoagem, em vários rios portugueses, e de rafting, na Áustria. A travessia Peniche-Berlengas em kayak, em Julho (repetida em 1997), organizada por mim e pelo Clube Expedição, e a Expedição Lisboa-Lagos em kayak, em solitário, em Setembro, foram outras das iniciativas a remos (ver artigos mais em baixo).
Em 1993 tinha feito, com amigos, uma descida em canoa de 3 dias, no rio Guadiana. Talvez a primeira em autonomia ! Mais tarde, a ‘IX Volta à Madeira em Kayak’, com mais de 140 km, e a descida de 150 km do rio Tejo em kayak, em 2 dias e em automonia, e a realização de várias expedições de montanha, contribuiram para formar a ideia de uma grande viagem em autonomia.
Na verdade desde há muito tempo que sonhava com fazer uma longa travessia em kayak, mas a limitação de movimentos exigida pela posição do remador, e a limitação quanto a espaço para carga, levou-me a pensar ser impraticável qualquer expedição que me obrigasse a estar mais que 12 horas naquela posição incómoda e de dificil acesso à carga, em alto mar. Nos meu planos, fiquei-me pela travessia Piombino (Itália)-Córsega (cerca de 90 km em autonomia), que ainda não cheguei a realizar por dificuldades de ‘calendário’ …
Foi apenas em 2006, ao realizar diversas pesquisas para o meu livro ‘Aventura ao Máximo – os novos exploradores lusos’ (ver http://aventuraaomaximo.blogspot.com/), que me dei conta de que já existiam barcos a remos com as caracteristicas que permitiam ultrapassar as dificuldade de uma longa jornada em mar aberto: leveza e resistência (por ser em fibra de carbono), espaço para mobilidade (incluindo dormir) e acessibilidade à carga (alimentação), sistema de retorno à posição normal em caso de capotagem, capacidade de instalação de sistemas de comunicações, radar e orientação, etc. Não é o mesmo que um kayak, mas serve perfeitamente !!! Depois, analisei os escritos de algumas pessoas que realizaram grandes travessias em mar aberto (trans-oceanicas), como o Andreu Mateu ou o Amir Klink, e dei-me conta de que eu pensava exactamente como eles em relação a certas formas de ver e sentir a vida. Uma travessia trans-oceanica tinha que ser a minha viagem ! Apoderei-me da ideia e adaptei-a. Tinha andado a estudar os navegadores dos Descobrimentos, bem como os pioneiros da travessia aérea África-Brasil, a primeira pelo hemisfério sul, e essa rota, Canárias-Brasil, servia bem para o fim. Seria a primeira porque as anteriores tinham sido todas feitas no hemisfério norte (entre as Canárias e as Caraíbas) à excepção de uma, realizada integralmente no hemisfério sul (entre Namibia e Brasil). Faltva-me estudar as correntes. Porque razão nenhum barco a remos tinha atravessado o Equador ? Os ventos seria quase sempre favoráveis mas, e as correntes ? Bom este é um ponto ainda por aprofundar, mas o desafio está lançado. Agora, ‘só’ tenho que conseguir um patrocinador para ajudar a adquirir ou alugar um destes barcos especiais (que já localizei) …. O resto são detalhes !!!



Travessia oceanica a remos
(extractos do livro “Aventura ao Máximo – os novos exploradores lusos”, de José Tavares, 2007)

O remo oceanico é considerado como um dos desportos mais duros do planeta, pela sua dificuldade, extremada duração e extraordinária demanda física e mental que requere. O remador tem que suportar condições climatéricas extremas em oceano aberto, como tempestades, ventos fortes e enormes ondas, a privação do sono e a fadiga mental, alem do risco que pressupôe cruzar-se com baleias, tubarões ou grandes barcos. Mas sobretudo, o atleta lutará constantemente com a tentação de desistir perante tão descomunal reto.
Mais de 3.000 pessoas tentaram escalar o cume do Everest. Apenas uns 200 tentaram atravessar um oceano a remos. Muitos destes tiveram que ser resgatados e 7 desapareceram no mar. Apenas 32 pessoas de todo o mundo remaram através do Atlântico em solitário, e apenas alguns o lograram sem assistência.

- a primeira travessia do oceâno Atlântico, foi registada em 1969, por John Fairfax, que tardou 180 dias a remar no Britannia, entre as Canárias e a Flórida (4.342 milhas).

- Tori Murden foi a primeira mulher a cruzar o Atlântico a remos, em solitário, depois de chegar a Guadalupe, em 1999. Percorreu 4.767 km (2.962 mi) em 81 dias, tendo partido das Canárias.


- A Atlantic Rowing Race: é uma corrida de remo oceânico, fundada por Sir Chay Blyth, que decorre entre as ilhas Canárias e as West Indies (Caraíbas), numa distância aproximada de 4.700 km (2.550 milhas náuticas). A primeira edição teve lugar em 1997 e, desde então, a cada 2 anos. Um total de 153 indivíduos completaram a viagem (até 2006).
Em 1997, venceu a equipa Kiwi Challenge (NZ), de Rob Hamill e Phil Stubbs (entre 30 equipas, com 6 desistências). Em 2001, venceu a equipa Telecom Challenge I (NZ), de Steve Westlake e Matt Goodman (entre 36 equipas – 3 desistiram e Debra Veal chegou só, após abandono do marido passados 13 dias da partida). Em 2003, venceu a equipa Holiday Shoppe Challenge (NZ), de James Fitzgerald e Kevin Biggar (entre 16 equipas duplas). A partir desse ano foi introduzida a ‘Ocean Rowing Society - Atlantic Rowing Regatta’, evento separado do anterior. Em 2005, uma sequência de temporais sem precedentes (alguns associados ao furação Epsylon, outros à tempestade tropical Zeta) obrigou à desistência de 6 embarcações, em pouco mais de 20.

- o recorde da travessia La Gomera–Barbados, foi estabelecido em 2004, por Phil Langman, Shaun Barker, Jason Hart e Yorkie Lomas, em 36 dias e 59 min., quebrando o anterior de Kevin Biggar e James Fitzgerald (NZ), com mais 22 horas, datado da corrida de 2003.

- o recorde para a travessia La Gomera – Antigua, pertence ao barco All Relative, desde 08.01.06: 39 dias 3h35’47’’.


Andreu Mateu e Amir Klink:

Andreu Mateu, espanhol, natural de Reus (Catalunha), cumpriu, aos seus 44 anos, o seu sonho de cruzar 4.710 km do oceano Atlântico num barco a remos. A sua façanha, quase idêntica à do inglês Jim Shekhdar que crusou o Pacífico, demorou 95 dias. O ex-executivo publicitário partiu de La Gomera a 2 de Dezembro de 2006 e chegou a Antigua (Caraíbas) a 7 de Março de 2007, convertendo-se no primeiro espanhol a realizar, em solitário e sem nenhum tipo de assistência, a travessia do Atlântico.
Após esta aventura, em que remava uma media de 12 horas por dia, Andreu perdeu 15 quilos mas viu realizado um sonho que se tornara numa obcessão. Alem dos perigos inerentes a este tipo de travessia (tempestades, navios de grande tonelagem, baleias …), Andreu pôs à prova a sua resistência fisica e psicológica. Um dia, “o pior da minha vida”, assegurou Andreu, as ondas assustaram-no muito ao golpeá-lo com força, ao ponto de fazê-lo cair ao ‘chão’. Esteve todo um dia e uma noite sem dormir, lutando com a natureza, e quase chegou a desistir …
O seu bote, com pouco mais de 4 metros de comprimento, construido em madeira e especialmente desenhado para o remo oceanico, possuia um sistema para voltar à posição de navegação em caso de voltar-se no mar e estava bem equipado, com telefone de satélite, roupa de protecção, tecnologia de navegação, rádio e computador, des-salinizadora de água, etc.


No seu curriculum de aventureiro, Andreu apresenta nada mais do que as seguintes façanhas:
- primeira pessoa a percorrer Barcelona–Reus (110 Km), sobre patins em linha (1992);- primeira pessoa a cruzar da Península às Baleares, num ‘patín catalán’ (1992); - atravessou o estreito de Gibraltar a nado, em 5 horas e 16 minutos (1992);
- atravessou o Atlântico num veleiro de 9 metros, em solitario e sem assistência, em 34 días (1993);
- atravessou o continente americano, da Argentina aos EUA, num veículo 4x4, percorrendo 36.000 km (1993);
- correu a maratona, entre Maratón e Atenas (1994);
- percorreu a Europa em bicicleta, entre Copenhague e Roma (1994);
- deu a volta a África em moto, percorrendo 50.000 km (1995);
- participou no rali París–Dakar em moto, retirando-se na 7ª etapa por rotura da moto e da sua clavícula (1997);
- pimeiro espanhol a cruzar o Atlántico a remos, em solitario e sem assistência (2007);

A respeito da sua ultima façanha, Andreu escreveu no seu sitio web: “A experiencia do Atlântico foi maravilhosa. A sensação de estar só no meio do oceano é algo indiscritível. Por um lado sentes-te muito pequeno porque que dás conta que alí, só, entre àgua e mais água, não és nada. Mas, por outro lado, sentes-te grande, porque sabes que o desafio a que te enfrentas não é fácil (…) Vivemos num mundo onde tudo está regulado e obrigam-nos a viver sobreprotegidos (para ir de moto pôe o capacete, para ir de carro pôe o cinto, não conduzas a mais de 120 km/h, etc…). Tratam-nos a todos como se fôssemos insensatos e desajeitados e temos que seguir as normas feitas para os que não sabem nem conduzir nem viver. Felizmente, não há leis que me impessam de agarrar uma cásca de madeira e enfrentar-me ao desafío de cruzar o Atlântico a remo, nem de que me obriguem a fazer paragens para dormir, nem que me digam o numero de remadas máximo por hora que posso dar, nem a que velocidade tenho que ír (…) Apetece-me desligar-me dos afazeres diários e ter tempo de estar comigo mesmo … Apetece-me pôr-me à prova e ver se sou capaz … Apetece-me ver a beleza do mar, do pôr-do-sol e as estrelas … Apetece-me ver como nasce cada dia e maravilhar-me perante o mundo e a natureza …”. Depois, termina com uma frase que justifica a força da sua motivação: “Quando alguem se coloca diante de um objectivo que préviamente foi um sonho, essa pessoa converte-se num ser imparável”.

Andreu, que se considera um “aprendiz de empresário”, ao tentar “sobreviver na selva dos negócios” deu-se conta de que “os tubarões não estão nos oceanos mas nos escritórios”.

As 8 frases que inspiraram este aventureiro:
- a principal barreira de onde estamos a onde poderíamos estar, é a nossa própria mente.
- ser mediocre não tem nenhum atractivo - mais vale fracassar com estilo perseguindo algo grande.
- só se vive uma vez.
- a chave não está em pôr anos à vida, mas sim em dar vida aos anos.- todos podemos mais do que pensamos.
- nunca saberás do que és capaz até que o tentas.
- o bom tempo e o pôr-do-sol só se valorizam quando antes passaste por uma tempestade.
- o principal perigo está em ficar em casa e não fazer nada.


Um dos pioneiros das travessias oceanicas a remos, e o primeiro a fazê-lo pelo Hemisfério Sul, foi o brasileiro Amir Klink (S. Paulo, 1955) – em 1984 cruzou o oceano durante 100 dias, partindo da inimaginável Lüderitz, na Namibia, e chegando a Salvador da Baía, Brasil, depois de percorrer mais de 3.500 milhas.
Filho de pai libanês e mãe sueca, formado em economia, desde cedo Amir esteve ligado ao mar. Com 19 anos, viajou de moto até a Patagónia e subiu a cordilheira dos Andes, percorrendo todo o território do Chile. Em 1978, realizou a travessia Santos-Paraty em canoa e em 1980 realizou de catamaran (Hobie Cat 16) o trajecto Paraty-Santos e Salvador-Santos, este durante 22 dias, na que foi a mais dura aventura maritima da sua juventude. Em 1982, à vela navegou o troço Salvador-Fernando de Noronha-Guiana Francesa, pesquisando as correntes para o projeto seguinte: a travessia do Atlântico Sul a remo, em solitário. Amir também percorreu mais de dois mil quilómetros num pequeno barco a motor na Amazónia, seguindo o curso dos rios Negro e Madeira. Participou do Rali Paris-Dakar-Cairo como navegador da equipa brasileira ‘Troller’, a bordo de um veículo 100% nacional, ficando em 6º lugar na categoria ‘novatos’. Em 1998, iniciou a navegação em veleiro 360º ao redor da Antártida (27.000 milhas, em 88 dias): a volta ao mundo mais curta, mais rápida e mais difícil que pode ser feita …

Eis algumas reflexões anotadas no diário da sua travessia a remos: “Assim como nas boas horas o lado positivo das pessoas se soma, nas horas negras o lado negativo se multiplica, criando pânico e trazendo às vezes perigo maior do que a própria situação” (reflectindo sobre as desvantagens de um segundo tripulante); “A imensidão do mar tornava minúsculos os meus maiores problemas e gigantes as menores alegrias”; “… descobri que a maior felicidade que existe é a silenciosa certeza de que vale a pena viver”, concluí no seu livro, depois de cumprir a façanha sem a festejar com euforia, ao contrário do que imaginara que faria.
No seu livro ‘Mar sem fim’, Amir justifica a necessidade do homem viajar: “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por histórias, imagens, livros (…) com os seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor (…) Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”. Já Cousteau comentando o sucesso do seu primeiro filme, tinha dito: “não serve de nada, é preciso ir ver”!

Amir escreveu: ‘Cem dias entre céu e mar’ (1995), ‘Paratii: entre dois pólos’ (1992), ‘As janelas de Paratii – 112 fotos’ (1993) e ‘Mar sem fim’ (2000).


Dois artigos sobre travessias em kayak (ver outros artigos em http://viagenseaventurasl.blogspot.com/):

Pico - Aventura nos Açores
(artigo escrito no verão de 2003 e não publicado)

Conhecer a beleza das ilhas do grupo central, com um objectivo principal: subir o Pico. Objectivos secundarios: atravessar o canal em kayak, descer às Fajãs de S. Jorge, mergulhar e ver cetáceos, provar as iguarias (como o famoso Verdelho …).

Em kayak
Chegado à Horta, atirei-me de cabeça ao principal objectivo. Na primeira noite fiquei num quarto alugado e informei-me da possibilidade de utilizar um kayak. Por grande coincidencia encontrei na mesma hora 4 pessoas conhecidas no Peter´s Café (em que outro sitio poderia ser !?!). Trocamos valiosas informações. Ainda passeei nas redondezas e tomei um excelente banho na praia de Porto Pim, ao final da tarde.
No dia seguinte estava pronto bem cedo. Parti antes das 9h depois de transportar o kayak para a praia, carregá-lo, afiná-lo e fazer um ligeiro aquecimento. Contornei o Monte da Guia, espreitando na Caldeira do Inferno (zona protegida), remando contra a corrente. Um barquito cabinado acompanhou-me à distancia ! Uma paragem frente ao pontão do porto da Horta: descanço por momentos e bebo uns goles de água, enquanto o barco se afasta. Aqui começa a travessia. Com o mar calmo e alguma corrente, em especial junto dos ilhéus, percorro as 5 milhas (aprox. 9,3 km) em hora e um quarto. Algumas Cagarras, silenciosamente, fazem-me vôos razantes. Nos ilhéus observo as fendas e o fundo (excelente para mergulho) e chego a Madalena sem problemas. Não precisei de muito tempo para me preparar para a escalada: arrumar o kayak, retirar a mochila, vestir-me, comer e comprar fruta para o caminho …

Na Montanha
Apanhei uma boleia, à saida da Madalena, de um estudante que já tinha feito a subida, mas com mau tempo. Ele era dali e estava de férias dos estudos em Lisboa. O caminho é lindo, cheio de Hortências a rebordar a estrada. Ainda a meio da manhã (11h30) estou no ponto de inicio da subida. Só falta registar-me junto dos bombeiros. Um grupo de jovens descançava após a descida - provávelmente dormiram no topo. Durante a minha subida o nevoeiro e as nuvens aparecem e desaparecem. Por vezes largam água. Em certo ponto tive que parar para vestir o impermeável e abrigar-me debaixo de um plástico estratégicamente deixado por ali. Admiro-me como certas pessoas iniciam a subida completamente desprotegidas …!!! Já perto da cratera cruzo-me com o Filipe que vem a guiar dois clientes. Eles tiveram sorte com as vistas … Às 14h00 estava eu na cratera !
Comecei por procurar e preparar um cantinho para pernoitar e assim que vi uma aberta melhor, desatei a subir ao piquinho. Foram 10 minutos a ‘arranhar’ bem para alcançar os 2.351 metros de altitude. Sim, agora estava no topo! O tempo, entretanto, voltou a encobrir por baixo de mim, mas ali estava um quentinho delicioso. Como que jogando comigo, as nuvens só raramente me deixaram ver o Faial e S. Jorge, até que começaram a subir, acabando por me envolver. Depois começou a chover miúdinho !!! Colei-me então aos buracos da rocha, de onde sái um forte calor, para ir secando. À falta de perspectiva de melhoria, voltei a descer para a cratera para me abrigar. Adeus pôr-do-sol romântico ! E, como não havia mais nada para fazer com aquele tempo, acabei por preparar a minha ultima refeição do dia e enroscar-me para dormir.
O tempo não me deu tréguas ! A chuva penetrava nas fendas do buraco onde me abrigava e começou a chegar ao meu saco-cama. Mais tarde, senti um brrruuuuum ao fundo. Interroguei-me se este vulcão ainda teria actividade ?!?! Poucos minutos depois explicava-se o ruído. Percebi distintamente que se aproximava uma trovoada! A tempestade aproximou-se velozmente com raios lancinantes seguidos de forte estrondo. O trovão, cada vez mais, colava-se ao relampago. Até que, após uns minutos de acalmia, que não inspiraram mais confiança, … sshhtraaat cabbuuuuum … quase em cima de mim !!! Tudo se iluminou e eu … cheguei a recear que a minha caverna se transformasse no meu túmulo !!!
De regresso, na manhã seguinte, perguntaram-me com espanto se tinha passado a noite lá em cima. É que tambem na Madalena a trovoada fora forte! O inicio do dia foi condescendente para a descida, mas quem começou a subir após as 10 horas tambem já não viu nada que não chuva (alguns dias depois, estava eu na Horta após percorrer a ilha de S. Jorge, e a montanha do Pico mostrou-se completamente limpa, para minha grande inveja). Fiz um corta-mato até à estrada (que poupa quase 2 km) disposto a seguir a pé até à Madalena, para melhor apreciar as Hortênsias e as vistas, quando um local me ofereceu boleia. Contou-me das aventuras da emigração da familia pelas Américas e da vontade de manter como está o nivel de desenvolvimento de S. Jorge: “as pessoas aqui não querem ter mais do que têm …”, exclamou.
De novo no kayak, atravesso o canal entre ilhas, desta vez com um mar mais agitado por pequenas vagas. De novo na Horta: objectivos 1 e 2 cumpridos !

Nas fajãs
Seguem-se passeios em S. Jorge e Pico, deixando o Faial para o final. Fujo do Pico por questões logisticas: não consegui alugar transporte (os automóveis estavam tomados e descubri que existe apenas uma scooter para aluguer em todas esta ilha !!!), os autocarros não tem horários muito convenientes e o tempo permanecia instável. Talvez no regresso ! Em São Jorge descubro, para minha admiração, a extraordinária e revitalizante beleza das paisagens, e a simpatia das suas gentes.
De Velas (porto de chegado do ferry) fui conhecer a zona de Rosais, no extremo Oeste da ilha, o parque das 7 Fontes com os seus miradouros que alcançam todas as ilhas em redor: a Graciosa e a Terceira, de um lado, o Pico e o Faial do outro. Espreitei a fajã de João Dias do cimo da descida vertiginosa. Prossegui de autocarro pela costa norte até atravessar a ilha de novo para sul, em direcção à Calheta. Perto, fica a fajã Grande, com um simpático camping junto ao mar. Aí estabeleci a minha base.
No dia seguinte parti para as fajãs do norte. Um jovem bancário dá-me uma preciosa boleia até à Serra do Topo, contando-me como costumava ir para lá surfar após o trabalho. Da estrada é possivel encontrar um caminho que desce para a fajã da Caldeira do Santo Cristo. A descida leva cerca de 2 horas e é simplesmente maravilhosa! Lá em baixo, reina grande calma ! Estão vários tendas montadas, mas ainda é cedo. Afinal, não há ondas e não se vêm os surfistas que tanta fama trouxeram a esta fajã. Daqui existe ligação para outras fajãs. Mais umas horas a caminhar naquela paisagem magnifica: observo flores como o Suspiro (nome dado localmente), que lembra as “lanternas” chinesas. Experimentei cortar os filamentos das pétalas para sugar o interior. Deveria saber a mel como me disseram, mas … nada! Há caminhos interrompidos devido a recentes deslizamentos de terras causados por fortes chuvadas. Mesmo assim consigo chegar à fajã de Cumbres. Por estrada subo ao topo, chuvoso, e de boleia retorno à base. Proximo dia, mais fajãs. Agora do lado sul: existe um percurso entre a fajã de Vimes e a de S. João. Uma subida interminável leva a Loural. Mais deslizamentos cortam o caminho. Mais adiante são as plantas que invadem o carreiro, quase pedindo o uso de catana para abrir passagem. Finalmente a descida para S. João. Daqui descubro novo carreiro que leva a S. Tomé, lá no alto. O pouco uso do caminho é revelado pelo muito mato. Em S. Tomé, para sorte minha, deparo-me com os preparativos para a tourada, daquelas que o touro corre pelas ruas... Quatro touros durante meia hora cada um. É uma tradição unica em S. Jorge, vinda da Terceira (a 29 milhas de distancia para norte), e atrai visitantes de toda a ilha. Tenho tempo ainda de visitar o Topo, zona de protecção especial, de terra fértil onde se planta alguma vinha e de onde se avista a ilha Terceira bastante perto. Ao final da tarde regressei à Calheta e decidi prolongar a minha estadia por mais um dia, para conhecer a fajã do Ouvidor de que tão bem me falaram. Outras fajãs houve que foram abandonadas após os tremores de terra de 1957, que causaram grande destruição nos caminhos e edificicações. Já não houve vontade para recuperá-los. Nessa noite fui dormir a Urzelina, que me constou ser interessante. Confirmo !


Volta ao Faial
De novo na Horta e com dois dias para gozar, preparo-me para conhecer o Faial. Um dia para fazer mergulho e observar, a cerca de 22 metros de profundidade, alguns peixes como o papagaio (Véja) e a Barracuda. Outro dia para dar a volta à ilha numa lambreta. Espectacular ! Elejo os seguintes locais: Ponta do Salão, com piscinas naturais, camping aberto e águias a sobrevoar; miradouros da Ribeira Funda; Vulcão dos Capelinhos, com uma paisagem … diferente!; Varadouro, excelentes piscinas naturais; Caldeira, toda a paisagem …; os percursos em terra batida, na Serra da Feteira até Flamengos;
Não vá embora sem provar o espadarte do Peter’s Café, ou um bife de Albacora no Ó Lima (Horta), ou as “espécies” (bolinhos regionais, em forma de rosca com recheio) de S. Jorge.
Faltou-me cumprir o objectivo do whale watching, mas na verdade fiz um pouco de “watching whale watching”, ou seja, a partir de alguns miradouros naturais, a norte do Faial ou nas descidas para as fajãs do norte de S. Jorge, consegui avistar claramente alguns barcos de watchers a perseguir grupos de golfinhos. Os cetáceos raramente atravessam o canal devido à sua pouca profundidade (max. 209m.), mas encontram-se com frequência a sul do Pico e a Norte do Faial e de S. Jorge, por serem áreas de grandes profundidades. E sabe-se que algumas baleias gostam de se alimentar entre os 400 e os 1.000 metros de profundidade.
É caso para nos interrogar-mos: porquê viajar para muito longe, antes de conhecer esta beleza extraordinária aqui tão perto ?!

Texto e Fotografia
José Tavares





Expedição Lisboa-Lagos em kayak
(publicado na revista: Mundo Náutico, nº 28, de Jan.-Fev-’96)

7h30 da manhã de 6a feira dia 25 de Agosto de 1995. Praia de Caxias. Acábam-se os preparativos para a partida de três canoistas do Clube Expedição para uma aventura ao longo da costa portuguesa. Objectivo: Lagos. No entanto, apenas um canoista fará todo o percurso. Os outros acompanharão a partida e parte de outras etapas.
O céu ainda está escuro e a neblina impede que se veja o Bugio e a costa da Caparica. Fazem-se os ultimos ajustes e confirmam-se pontos de encontro e de controle de passagem.
7h50. Por fim clareia . O sol ainda não subiu no horizonte mas o céu está limpo. Saímos para a água, e embora se mantenha alguma neblina, o mar “está chão” no delta do Tejo e antevê-se um bom dia, tanto que o barco de apoio previsto para acompanhar a largada não chega a sair. A maré está a descer mas a corrente ainda não parece forte (baixamar ás 10h30).
Decorridos 20 minutos e quase a chegar ao areal, a força da corrente faz-se sentir, custando-nos 15 minutos extra a remar forte para percorrer escassos 300 metros. Foi o primeiro erro. A travessia da corrente deveria ter sido feito mais a montante.
Após uma pausa para recuperar, iniciamos a passagem para a Caparica que se faz sem problemas pois o mar está calmo. Mas ao percorrer as cerca de 13 milhas até á praia do Penedo (Meco), o vento de Este faz-se sentir. Primeiro dia: 5 horas e meia a remar; pausa no areal do Bugio e na Fonte da Telha
Segundo dia, 9h00. O mar está calmo. Passamos as vagas largas do cabo Espichel sem problemas, mas com respeito. Membros do ISN aparecem mais tarde para garantir que tudo está bem. Segue-se uma calmaria até Sesimbra onde mal entendidos da policia maritima atrasam e quase abortam a expedição. Esta etapa fica-se pelo Portinho da Arrábida após 6 horas a remar.
Terceiro dia, nova calmaria e um belo nascer do sol. Tempo para recuperar distancia.
A meio do caminho para Comporta - onde se fez pausa - com a costa de Sesimbra a esbater-se na neblina, surgem á frente do kayak solitário bolhas de ar em forma de circulos. De repente, cerca de cinco metros á frente, surpresa agradável, atravessa-se por duas vezes o dorso de um golfinho. Sem mais companhias o dia acabou na praia da Galé após cerca de 21,5 milhas percorridas e 6 horas e 50 minutos a remar.
Quarto dia: mais uma etapa solitária. Praia e mais praia. Uma etapa bonita e aborrecida. Cuidados na paragem na praia a norte de Sines. Desde St. André que as ondas vinham ‘crescendo’. É preciso sair rápido atrás de uma onda mais pequena. Mesmo assim a ‘ressaca’ da onda arrasta o kayak dando-nos um banho de areia. Na praia um pescador comenta que dois dias antes as ondas tinham o dobro da altura.
Saída ao entardecer e dobragem do cabo de Sines com chegada a Porto Covo ás 19h40. Um total de 7 horas e 20 a remar.
Quinto dia: super etapa que dura 8 horas e 5 minutos até Odeceixe. Paragens em Mil Fontes, Almograve e Zambugeira. Os músculos dos ombros já doem e o ritmo é lento para vencer as cerca de 25 milhas. Em Mil Fontes é preciso contornar o fluxo da maré vazante para chegar á praia. Durante a pausa cái uma neblina cerrada. Nao deixa ver nada, mas depressa se levanta.
Sexto dia: Odeceixe - praia do Amado com paragem na Arrifana. 5 horas e 30 no mar. Praias espectaculares. O leme parte-se ainda de manhã. No meio de alguma neblina um pescador ajuda a remediar a situação.
Sétimo dia: levanta-se vento de Norte. Avançamos por terra até á praia do Castelejo para não atrasar a passagem no cabo de S. Vicente, esperada pelas autoridades maritimas (praia do Beliche). Com vagas largas no sentido Sul e “carneirinhos” a atrapalhar passamos o cabo ás 10h25. Chegada á praia do porto de Sagres ás 12h15, com calmaria, para um repouso merecido durante o resto do dia.
Adiámos a etapa Sagres-Lagos para um oitavo dia devido ao cansaço. Esta etapa de calmaria e paisagem espectacular dura 5 horas e 30 com várias paragens: Martinhal, Salema, Luz e Da. Ana, com tempo para rondar os rochedos no mar e mergulhar das rochas.

Esta Expedição estava planeada desde 1994 e era uma ideia já com anos. Foi necessário escolher as condições metereológicas ideais (ultima semana de Agosto com Lua Nova e vento brando de Sul) informar Capitanias e obter apoio da Policia Maritima e Instituto de Socorros a Naufragos para a vigilancia da passagem de certas zonas (Cabo Espichel e Cabo S. Vicente), e contar com apoios por terra e por mar na passagem de pontos criticos.
A forma fisica tem que ser especialmente bem treinada, e para isso contribuiram os diversos programas de Rafting e canoagem organizados pelo Clube Expedição na Austria e Alemanha durante o mês de Agosto. Mesmo assim, o cansaço muscular durante e após as etapas longas obrigam a exercicios de massagem e relaxamento.
Texto e Fotos
José Tavares

1 comentário:

OfFo disse...

vejo que a subida ao Pico foi uma aventura, tive mais sorte nas minhas duas subidas .

Hermano Noronha